quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Joh & Suzy - Apenas quatro canções.


·         Prólogo 

John Williams era um homem simples, que morava num vilarejo próximo à capital irlandesa. Cresceu ouvindo os discos do pai de músicas típico irlandesa. Gostava também de músicas britânicas e músicas americanas, principalmente anos 50 e 60. Aprendeu a tocar violão sozinho, logo descobrindo que tinha um dom pra música, e também para compor. John aos 17 anos conheceu outros aspirantes a músicos, também da Irlanda que tinham gostos musicais parecidos, e então começaram a tocar juntos, ainda no começo dos anos 70. Aos poucos a banda foi desenvolvendo um estilo próprio de sonoridade, e tocavam em boates e casas de show da região.
 Dentre os membros da banda havia um que John considerava o seu melhor amigo, ele se chamava Mark Willber. Ele era dois anos a mais que John. Um baixista excelente, Willber morava a uma três quadras da casa de John, ele era filho de agricultores, que sempre viveram de mantimentos do campo. Assim como John, Willber gostava de muitas músicas parecidas com as que o amigo ouvia. Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd, sempre estavam no meio das suas conversas e rodas de violão. As pessoas ficavam admiradas com as vozes de John e Willber, cantando canções tão conhecidas, mas com uma roupagem diferente do que já tivessem ouvido.

·         Perda
Durante cinco anos, vivendo de músicas, conhecendo lugares, um dia Mark estava indo visitar seus pais, pois fazia quase um ano em que estivera fora da cidade de onde morava. Mas na rodovia em que estava vinha um caminhão na contra mão, e colidiu com o carro em que Mark se encontrava. Ele morreu na hora, e no mesmo dia John que estava passando as férias já na cidade em que Mark não conseguiu chegar, logo soube da morte do amigo. Motivo esse que deixou John muito deprimido, e totalmente desmotivado para tocar suas canções. John então largou a banda, e ficou três anos sem pegar em nenhum instrumento, e durante esse período, cursou a faculdade de arquitetura nos Estados Unidos na cidade de Nova Yorque.
Estava apresentando um projeto para um engenheiro civil, que queria construir um bar próximo do mar, e enquanto o engenheiro falava dos seus planos futuros em relação ao negócio que queria começar, uma voz distraiu John que num devaneio, parecia apenas ouvir aquela voz, aquela canção, doce e suave que vinha de uma jovem bela de cabelos loiros que cantava sentada num chafariz da praça, mais com a intenção de ser ouvida, do que de ganhar alguns trocados com o seu talento. Uma canção folk ou country, mas que de alguma maneira balançou com as emoções de John, que se esforçava tanto pra se afastar das suas tristezas, no qual o fez até mesmo parar de ouvir músicas que lembrassem o seu querido amigo. Era como se o equilíbrio emocional que John lutara tanto para manter, fosse rompido naquele momento.

·         A jovem e o seu violão

Após se despedir do engenheiro, John de aproximou daquela jovem. Cumprimentaram-se, e depois ele perguntou o seu nome. Suzy Morgan era o nome dela.
John, recém formado em arquitetura, já com 25 anos, foi para Nova Yorque apresentar seus projetos e oferecer seus serviços na área de arquitetura. Nunca mais tivera a vontade de tocar de novo, mas ao conhecer Suzy, parece que alguma máquina que estava desligada dentro dele, começou a funcionar novamente. A música até então perdida dentro de John, ou esquecida, parecia ter ressuscitado através daquela canção. Canção esta simples, mas tão impactante e com uma carga emocional tão grande, que era como se o firmamento tivesse se abrido sob os pés de John. Era como se tivesse gerado em John, um novo impulso uma nova motivação. Pouco a pouco os dois ficaram muito amigos e decidiram se juntar formando assim uma dupla, cantando músicas alternativas misturadas com folk, e com o passar do tempo, foram se juntando novos integrantes à banda.
Logo começaram a compor músicas e a elaborar melodias, e dentro deles havia um prazer de tocar, simplesmente por puro prazer de liberar canções pra apascentar o coração das pessoas. John nunca teve a ambição de ser famoso, gravar discos, vender milhões de cópias, ou coisas do tipo. Tudo o que ele queria, era apenas que as pessoas ouvissem as suas canções. Todos que ouviam as suas músicas, diziam coisas como: “Nunca ouvi canções como esta”, ou “Quando estou triste e ouço essas músicas, elas me dão um novo ânimo”. Eram letras que falavam de amor, esperança e compaixão. O que John pensava a respeito, não muito diferente de Suzy, era distribuir suas músicas de maneira gratuita, sem a intenção de lucrar com elas, via fitas K7, era o que havia disponível na época.
·         Decepções
Estava tudo ótimo até então. Mas chegou um momento em que um dos integrantes da banda Clark Haw, começou a se incomodar com o fato de apenas tocar por tocar, sem obter lucro algum. Clark era um grande guitarrista que morava em Manhatan ainda com os pais. Era um jovem de classe média de 21 anos, que cursava a faculdade de publicidade, mas também tinha uma inclinação para música. Ele olhou John tocando guitarra em um bar próximo da sua casa. John estava lá por um pedido de decoração e design de ambiente e estava esperando o dono do bar chegar para apresentar-lhe o projeto, e enquanto ele não chegava, olhou uma guitarra encostada perto do palco e começou a dedilhar uma antiga canção irlandesa. Clark, olhando John tocar, se aproximou, e então começaram a conversar, e Clark disse a ele que também sabia tocar guitarra.
Trocaram muitas idéias e perceberam que tinham gostos musicais parecidos, e não muito depois, os dois já estavam tocando juntos. Só que com o passar do tempo, Clark começou a ficar ambicioso. Percebendo o sucesso que as músicas faziam onde quer que eles tocassem, ele começou a pensar de outra forma. Queria ser famoso, ter o seu talento reconhecido, ouvir suas músicas nas rádios. Então, decidiu escondido de todos os demais, vender os direitos autorais das canções que nem eram compostas por ele.
Ao descobrirem a armação de Clark, houve uma intriga na banda, eles se separaram e cada um tomou um rumo diferente, menos, claro, John e Suzy, que começaram a ver que tinham muito em comum cada vez mais que andavam juntos. Desolados com a separação da banda, o casal de amigos, estavam pensando em outros caminhos que as suas músicas pudessem levar.
Os dois por meio da internet ficaram sabendo de um festival de artes e música que haveria num estado próximo do Kansas, e então foram para lá. Mal sabiam que a vida dos dois teria uma mudança radical quando decidiram viajar para um lugar próximo de Oklahoma, na fronteira com o Texas, em um vilarejo chamado “Hope”.

·           Um lugar chamado HOPE

Quando chegaram, estava havendo vários festivais de música, no dia 4 de julho, dia da independência americana. Pinturas, canto erudito, bandas ao ar livre, além de várias tribos alternativas como punks, grunges, comunidade hippies entre outras. Também estava havendo cruzadas evangelísticas, igrejas undergrounds, sem denominações fixas, sem sedes, além de pastores de vários lugares do país. Àqueles famosos movimentos que são feitos por várias igrejas durante os festivais americanos.
Num momento em que estavam liberando canções para quem estivesse passando no meio daquele povo todo, do nada são surpreendidos por um homem diferente. Diferente não na aparência. Era um homem idoso como qualquer um da idade. Mas tinha algo que o diferenciava dos demais. Tinha cabelos compridos já embranquecidos, mas ainda havia algumas mechas loiras, barbudo, de óculos escuros, calças jeans e camisa colorida, tênis Adidas, parecia um hippie. Mas ainda assim esse homem tinha algo diferente das pessoas da sua idade, uma energia como a de uma criança. Com um brilho nos olhos ele sorriu para o jovem casal. Ficou durante o momento em que eles estavam tocando. Ele dançava e gesticulava com as mãos para o céu, de maneira engraçada. E quando eles pararam de tocar, ele se aproximou dos dois, e começou a dizer de coisas sobre passado de John e Suzy, que só eles sabiam, e depois começou a falar do futuro deles, de que através das suas músicas, eles transformariam a vida de outras pessoas, não com ideologias, mas com mudanças de atitude. As pessoas que não entendessem a música por causa do idioma, a traduziriam, só para compreender a mensagem das letras. Falou também, que eles seriam chamados para tocar em vários lugares do mundo, e aonde eles chegassem com suas músicas, fariam as pessoas refletirem mais sobre si mesmas, sobre a família e sobre os seus semelhantes, tudo através das suas músicas.
Não sabiam se era um hippie, um guru, um bispo aposentado, um pastor de férias, um louco, ou até mesmo Jesus Cristo disfarçado. Mas as palavras dele surtiram algum efeito na vida de John e Suzy. Uma vontade de não parar mais. De viver da música, respirar música, e comer músicas no café da manhã.   
Os dois ficaram pensativos, após o homem desconhecido ter falado aquelas coisas, sem nem ao menos ter se apresentado e depois ter dado às costas e ido embora. Logo os dois começaram a ter uma nova perspectiva em relação as suas músicas. Viam que era o caminho que eles queriam seguir.
John e Suzy eram muito amigos. Muito amigos mesmo. Eram confidentes um com o outro. Mas mesmo assim, nunca haviam se envolvido afetivamente. Ambos tinham muito respeito um com o outro.
·         Sobre Suzy
Suzy Morgan era filha única, e também, uma garota muito simples. Loira, magra, de traços tipicamente americanos, olhos verdes e cabelos lisos, mas sempre entrançados. Morava em uma fazenda, no Kansas, com o pai. O seu pai, Alexander Morgan, era um homem muito bom, era viúvo. Sua mulher, Mariah Morgan, havia falecido há 10 anos, ela era regente de um coral numa igreja próximo de sua casa, e dedicou até os últimos dias de sua vida exercendo essa função. O pai era um artista plástico quando saudável. Após ter descoberto que tinha câncer no estômago, ele parou de pintar quadros, pois ficou muito debilitado. O sonho de Suzy era fazer faculdade de música ou artes plásticas, porém, por necessidade e por amor que tinha ao pai, ela cursou um técnico em enfermagem. Pois os hospitais eram muito distantes de onde moravam, e ela cuidou do pai até a morte. Quando estava com 23 anos, ela decidiu se mudar para a cidade de Nova Yorque, e tentar a vida como musicista ou artista plástica, nas escolas de arte e música novayorquinas. E nas idas e vindas da cidade, quando ela decidiu descansar à beira de um chafariz. Logo que ela abriu a caixa do seu violão, começou a tocar canções que lembravam o seu querido pai. Ao mesmo momento em John se aproximou e se apresentou a ela.
·         Sobre John
John Williams era um típico irlandês, com todos os traços físicos de sua nacionalidade. Meio largadão, olhos azuis, barba mal feita, cabelos lisos e despenteados pelos ventos gélidos da Irlanda, mas tinha uma paz como nenhum outro. As pessoas sentiam prazer em conversar com ele, pela mansidão que ele transmitia. Como a sua maioria, sempre gostou de música. Cresceu ouvindo os clássicos americanos, britânicos e irlandeses dos anos 50,60 apesar de ter nascido no final dos anos 50. Esse irlandês simples cresceu com os pais e dois irmão, sendo ele o mais novo. A sua mãe Elizabeth Willians, era irlandesa e enfermeira de um hospital local. O seu pai, Matthew Williams, que era americano, serviu na guerra do Vietnã, morrendo também nela.
Sua mãe viúva, não mais se casou, e dedicou o resto da vida à família. Seus irmãos tinham gostos muito diversificados. Zaqueu Williams, o mais velho, decidiu seguir a carreira militar, tornando-se assim fuzileiro naval, o outro, o do meio, seguiu a área de comércio marítimo como a venda de frutos do mar, seu nome era Ismael Williams. Porém com todas as suas diferenças, os três se davam muito bem.
Após o falecimento de sua mãe, John decide morar sozinho. Ganhando a vida então, tocando em bares, boates e clubes noturnos, até conhecer aquele que se tornaria o seu melhor amigo: Mark Willber. Após cinco a seis anos tocando juntos, Willber sofreu um acidente de carro, no qual morreu na hora. Por esse motivo, John ficou muito deprimido e aos poucos foi perdendo a vontade de tocar, e o prazer pela música, decidindo então cursar a faculdade de arquitetura na América, e exercer a profissão logo após a formatura. Sem ao menos ter idéia de quais surpresas a vida havia reservado para ele.
·         Tempo presente
Quanto ao presente, ainda em Oklahoma, John e Suzy, foram conhecendo novos lugares, novas pessoas e novas amizades. O convívio e as tantas coisas que tinham em comum, cooperaram para que os dois gostassem mais um do outro do que de costume. Logo começaram a namorar e após uns cinco anos, se casaram, e decidiram morar em Nova Yorque.
Na cidade novayorquina, já recém casado, compraram um apartamento em Manhattan. Nesse período, gravaram um pequeno EP, um disco com apenas quatro músicas, sugestivamente chamado de “Quatro canções”. Essas músicas contavam suas histórias, falavam dos encontros e desencontros até estarem juntos, e o quanto a música fazia parte da vida deles, como se fossem fábulas e parábolas, para que as pessoas que ouvissem se identificassem com as letras. Eles gravaram apenas 100 cópias deste disco, mas a demanda foi tão grande, que em três meses de lançamento a gravadora decidiu gravar mais cópias vendendo assim mais de 500.000 cópias, três meses depois. Porém, foi o único álbum que lançaram no comércio, o que deu a fama para eles chamando-os de “casal de quatro canções”. Mas era óbvio que eles tinham mais músicas do que isso. No entanto, John e Suzy sabiam que suas intenções quanto à música, eram outras.
Fizeram fortuna, sendo chamados em outros países, inclusive o Brasil e outros países da América do Sul, para tocar, em programas de TV, fazendo shows, liberando suas canções, escrevendo livros, expondo em galerias de arte com as pinturas de Suzy, e então, após três anos de casados, nasce o pequeno Mike, que completaria a alegria daquele casal.
·         Os caminhos traçados pela música
Após seis anos do nascimento de Mike, com os seus pais vivendo ainda das artes, era óbvio que o pequeno garoto se interessasse pela música e as artes plásticas, assim como os pais um dia John levou seu filho para pescar, e passarem um fim de semana juntos.
Foram para um local afastado da cidade, num lugar bem tranquilo, silencioso e calmo. Estava tudo tão bom, aquele momento com o filho, o rio de águas cristalinas, a paz do lugar, quando de repente John sentiu forte uma pontada no coração. Ele já estava com 42 anos nessa época, e pensou ao mesmo momento que estava com o filho naquele belo lugar, que se morresse ali, valeria à pena, pois estava ao lado do filho amado, e logo depois se lembrou de tantas adversidades que tinha passado, e olhou para o filho que chorava, sem entender o porquê do sofrimento do pai, que aos poucos ia deitando no gramado.
Mas John resistiu, respirou fundo e bebeu um pouco de água. Depois voltou pra casa com o filho. Porém, não contou nada a Suzy, e pediu para o filho não contar à mãe também. Quatro meses depois, John recebeu um email do irmão mais velho, convidando-o para passar o verão em sua casa na Irlanda. Nesse período John já estava muito cansado e debilitado, tinha parado de tocar para o grande público, e tocava apenas em casa ou com amigos, Suzy e o filho, dedicando-se assim apenas ao lar, e alguns projetos de arquitetura que desenvolvia no escritório da sua casa. Já estavam estabilizados financeiramente, pois tinham economizado durante vários anos de carreira.
Então John e sua família, foi para Irlanda visitar o irmão do meio, que vivia do comércio, e o mais velho que estava recém aposentado na marinha. Ficaram hospedados na casa do irmão mais velho, Zaqueu Williams.

·         O fim da história, não o fim da canção

Era um domingo ensolarado, os filhos dos irmãos Williams brincando no jardim da casa do irmão mais velho de John, estavam todos reunidos com suas esposas, parentes e amigos. Todos muito felizes, principalmente John, que estava tão emocionado de rever seus irmãos que não via pessoalmente há décadas.

De repente foi tomado de uma dor muito forte no peito, estava sentado à mesa da copa com os irmãos e a esposa do lado no horário do almoço. Então John cai no chão, mas dessa vez não consegue se levantar. Os irmãos chamam a ambulância, mas o socorro chega tarde. Tudo o que John pode fazer, já deitado nos braços de sua amada Suzy Morgan, era pegar em sua mão e dar seu último sorriso seguido do último respiro,selando assim a gratidão de ter passado os melhores momentos de sua vida ao lado de uma pessoa tão amável quanto àquela mulher da cidade do Texas.

Suzy, os irmãos de John, o pequeno Mike, todos ficaram desamparados com a morte do homem, que deixou uma herança, não financeira, mais de sentimentos que tinha com as pessoas a seu redor, com o filho, com a mulher e com os amigos. No mundo todo, ficaram sabendo da morte de John, via internet, TV, rádios e jornais. Vinham pessoas de todas as partes do mundo para prestar a última homenagem àquele que após sua morte seria considerado um herói irlandês, por causa das suas músicas que apaziguava até mesmo os corações mais duros.

John morreu no fim dos anos 90, ele foi cremado, e suas cinzas jogadas no mar da Irlanda. Suzy e Mike voltaram para a América, e após isso Suzy não se casou mais. Dedicou o resto da vida cuidando de lares para crianças órfãs, e dando aulas de pintura para idosos e pessoas com doenças mentais. Quanto a Mike, ele decidiu seguir carreira como instrumentista, aos 12 anos já tocava guitarra como um adulto, e aos 20 gravou seu primeiro CD com algumas canções de autoria própria, e outras herdadas do pai.

Sempre que falam em músicos que tocavam com sentimentos, é impossível não se lembrar de John Williams, o herói irlandês. Àquele que não se importava com a quantidade de fitas, discos ou CD’S que venderia, mas sim, com as pessoas que seriam tocadas com suas músicas.















3 comentários:

  1. Bom, esse conto eu escrevi para nota da disciplina de Teorias da Narrativa do 2º período de Jornalismo. Meio dramática, mas é fruto de muitas experiências que já aconteceram comigo, além de ser uma soma dos meus heróis da música e do cinema.

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  2. Diga lá meu irmãozão..esse conto foi um desafio...mas é de autoria minha minha sim...tu gostou ? Ainda vem mais daqui pra frente...

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